Novo vazamento da PF liga prefeito de Manaus, irmã e genro à organização criminosa.

Um novo vazamento do inquérito da Operação Entulho, da Polícia Federal (PF), liga o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), sua irmã Dulcineia Almeida [Dulce Almeida] e o genro de Dulce, Pedro Thadeu Cadais Pinto de Moura, aos crimes de organização criminosa, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, envolvendo as empresas Tumpex e Soma, na investigação de suspeitas de ilegalidades na movimentação de R$ 132,2 milhões.

As informações vieram à tona após a interceptação telefônica do sócio da Tumpex, o empresário José Antônio Marques Vieira, que foi gravado efetuando pagamentos de vantagens indevidas a Dulce Almeida, em dezembro de 2019, um mês antes de David Almeida tomar posse como prefeito. Os pagamentos tinham o objetivo de fraudar os pregões presenciais 002/2022 e 007/2022 da Comissão Municipal de Licitação (CML) da Prefeitura de Manaus, de acordo com a PF.

Trecho do inquérito da PF cita nomes de David Almeida, Dulce Almeida e Pedro Moura (Reprodução)

O nome de Pedro Thadeu Cadais Pinto de Moura [Pedro Moura] é citado, no inquérito instaurado na Portaria 11.300/2021, como o “encarregado” das ordens de David Almeida para favorecer a empresa de José Marques, que relata um encontro pessoal com o prefeito de Manaus.

“…diálogos interceptados apontam para possível ocorrência de ilícito que envolve a autoridade com prerrogativa de foro, qual seja, o prefeito da capital amazonense. O interceptado (José Marques) diz ter encontrado diretamente com a autoridade, para quem pediu providências e foi supostamente atendido, encarregando-se o genro para auxílio no favorecimento”, diz trecho do inquérito.

Trecho do inquérito fala sobre envolvimento de David Almeida (Reprodução)

Pedro Moura é citado como “genro” de David Almeida, mas no mesmo documento, a PF esclarece que ele é genro de Dulce Almeida. Para facilitar o diálogo e a relação com fornecedores da Prefeitura de Manaus, Pedro se identificava como “genro” ou “sobrinho” de David Almeida.

Ao apurar a veracidade do encontro entre o empresário José Marques e David Almeida, a PF relata que há indícios de que o encontro realmente tenha ocorrido, com base no cruzamento de dados da estação de rádio que captou as escutas.

A investigação aponta que houve a confirmação de editais de licitação da Prefeitura de Manaus para a aquisição de pedra brita e areia, assuntos citados nos diálogos do empresário com o prefeito.

Trecho do inquérito fala sobre encontro de empresário com o prefeito de Manaus (Reprodução)

Na página 305 do inquérito, a PF relata que Dulce Almeida recebeu R$ 100 mil do empresário José Marques em troca de “ajuda” para vencer uma licitação, em 2019, e depois a relação entre o empresário e o prefeito continuou, em 2022, após novos encontros.  

Relação entre Dulce Almeida e empresário é citada no documento da PF (Reprodução)

Responsável pela investigação, o delegado federal Eduardo Zózimo de Andrade conclui que é necessária a autorização judicial para instaurar um novo inquérito que investigue a prática de crimes de corrupção ativa e/ou passiva, com o objetivo de fraudar licitações, por parte de José Marques, Dulce Almeida e Pedro Moura. O prefeito David Almeida, por ter foro privilegiado, passaria a ser investigado em instâncias superiores, segundo a PF.

Manifestação do delegado responsável pela investigação destaca apuração sobre crimes de corrupção ativa e/ou passiva (Reprodução)
Renato Júnior

O relatório da PF, registrado na Portaria 11.300/2021, que liga David Almeida, a irmã dele, e o genro de Dulce a uma organização criminosa, é o mesmo que cita Renato Júnior no crime de fraude em licitação nos contratos das empresas de coleta de lixo, Soma e Tumpex.

O nome de Renato Júnior é mencionado na página 293 do inquérito, que possui 306 páginas. A investigação relata que a Polícia Federal “logrou êxito” ao encontrar elementos que indicam que um dos investigados teria influência na Prefeitura de Manaus para “participar (e fraudar) licitações de forma privilegiada”.

Essa conclusão ocorre a partir de uma conversa interceptada pela PF com o empresário Williams Rodrigues Maia, sócio de uma das empresas suspeitas de ser de fachada, a JED Comércio e Serviços de Construções Eireli. Nesse trecho, a PF relata que Williams participou de uma reunião com David Almeida, na qual o prefeito teria ligado para Renato Júnior com a ordem de “resolver uma situação”.

A ‘Operação Entulho’, deflagrada em 2023, desdobrou-se na ‘Operação Dente de Marfim’, no mesmo ano, envolvendo também outro secretário da gestão de David Almeida, Sabá Reis, da pasta de Limpeza Pública (Semulsp).

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